Só Faz Falta Quem Cá Está: O Regresso de Um Pilar do Nosso ADN
Durante décadas, o FC Porto construiu a sua identidade sobre alguns alicerces imutáveis. E se hoje começo este texto com o clássico “só faz falta quem cá está”, é porque vejo, finalmente! esse espírito a querer regressar à casa que nunca devia ter abandonado.
Na nossa casa, esse ditado não é uma frase feita e muito menos um cliché. É um reflexo direto do ADN portista. Um ADN onde se podia chorar a saída de um jogador, claro, mas sem nunca cair no desespero. Porque a estrutura estava montada. Porque o scouting já tinha o próximo. Porque sabíamos que o craque A ia sair, mas o craque B já estava a aquecer, e às vezes era ainda melhor.
Era duro, mas não era o fim do mundo. Porque o Porto não dependia de nomes, mas de trabalho.

O Erro da Direção Anterior
Esse espírito foi assassinado pela direção anterior. Sob a batuta de FJM e companhia, o FC Porto tornou-se um clube refém dos seus próprios jogadores… alguns com talento duvidoso, outros sem qualquer traço do nosso ADN.
Durante anos, em conversas com amigos ligados a essa entourage do FJM — um dia vou escrever com calma sobre o mal que nos fizeram — cansei-me de ouvir frases como: “não se pode fazer nada”, “quem manda são os jogadores”, “não percebes nada… o futebol hoje é diferente”.
As minhas tripas remoíam a ouvir aquilo, e só pensava que se o meu querido avô ainda cá estivesse, batia-lhes com o pau da bandeira. Era feito de uma fibra que não permitia tremer à primeira dificuldade. Onde se exigia respeito pelo símbolo e pelo clube acima de tudo e todos.
Nunca percebi se essa malta acreditava mesmo nessas patetices ou se apenas repetiam o que a direção lhes enfiava pela goela abaixo. Muitas vezes, depois de longas discussões, quando já não tinham por onde fugir, acabavam por largar o clássico “é o que há”, querendo dar a entender que a cartilha vinha de cima.
No fundo, era um misto de doutrina cega e falta de coragem. Mas o mais grave foi o estrago: aos poucos, foram corroendo o nosso espírito.
A Nova Geração e o Medo de Perder Craques
O resultado está à vista: hoje temos uma geração de novos portistas que entra em pânico com a possibilidade de perder o craque Mora. Como se o problema fosse esse.
Quando, na verdade, o que nos devia tirar o sono não é a saída de um jogador… é termos perdido uma estrutura capaz de antecipar, substituir e seguir em frente. Como sempre foi.
A saída de qualquer um parecia o apocalipse. Criou-se a ideia de que éramos um clube menor, dependente de “craques” (com muitas aspas), quando na verdade o que tínhamos eram titulares à força por ausência de alternativas competentes.
A base ruiu, a máquina deixou de produzir. Chegámos a ter capitães que a maioria dos sócios nem conhecia bem…

O Regresso da Estrutura e do Scouting
Hoje, felizmente, já se começam a sentir os primeiros sinais de vida. E o peito volta a encher de esperança.
Hoje vejo o scouting a ser reforçado e, mais importante ainda, a ser priorizado. Vejo uma estrutura a mexer-se com ambição, critério e visão de futuro.
É com entusiasmo que acompanho a chegada de novos jogadores à equipa B, sinal claro de que estamos a saber identificar talento e, ao mesmo tempo, aproveitar bem as oportunidades que o mercado nos dá.
Casos como os de Trofim Melnichenko, Kotaro Nagata e Kauê Rodrigues mostram isso mesmo: jovens com margem para crescer, que chegam no tempo certo, com espaço para se integrarem no clube de forma natural, sem pressas nem ruído.
Contra a Narrativa Miserabilista
Para os iluminados que comentavam no artigo anterior “A vitória invisível que não dá likes” que estamos à beira da falência… expliquem-me, então, como é que um clube supostamente em colapso está a contratar talento jovem, com cláusulas altas e projetos de médio prazo, até para a equipa B?
Onde encaixa isso na narrativa miserabilista que tanto gostam de repetir?
Isto não é um acaso. É um plano. E está apenas a arrancar.

A Lição da Nossa História
É isso que me dá esperança. Mesmo sabendo que as viúvas do passado vão perguntar: “Mas quantos títulos ganhamos?” como se o Porto não tivesse sido construído a médio e longo prazo.
Como se Pedroto, por exemplo, tivesse vencido tudo no primeiro ano. Como se o Pinto da Costa mestre não tivesse feito apostas de risco antes de levantar taças.
Sim, este novo projeto tem o atrevimento de querer ser melhor que o mestre. E ainda bem! Porque o pior que podemos desejar ao FC Porto é que alguém queira “apenas igualar” quem nos liderou durante 40 anos.
Quem ama este clube deve querer superá-lo. Melhorar. Elevar. Não por vaidade, mas por exigência que o próprio clube deve impor.
Porque se não for assim, estamos condenados ao passado, e isso, como nos ensinou o Pdc, é coisa de lampião.
O Futuro Constrói-se com Trabalho
Quase tudo já foi inventado. Só precisamos de humildade para recuperar os alicerces, inteligência para os adaptar e coragem para os executar.
Na minha opinião, o nosso “novo” futuro não se constrói com craques de Instagram. Constrói-se com trabalho de formiga.
- Com scouting.
- Com coragem para lançar.
- Com fé na base.
- E com a certeza de que, no FC Porto, “só faz falta quem cá está”.
E tu, também já começaste a sentir a máquina a aquecer?
Artigos em primeira mão e o dia a dia do nosso clube.
Segue-nos no X (Twitter)(Pensar Porto é o nosso compromisso)