A questão Taremi e o FC Porto
O regresso de Taremi? Nem tudo o que joga bem deve voltar. Ele fez golos… Mas será que não há coisas que valem mais do que golos?
Nos últimos dias voltou a ecoar o nome de Taremi como possível reforço do FC Porto. E embora compreenda quem vê nesta possibilidade uma oportunidade desportiva interessante, é precisamente aí que quero puxar o travão, não com base na qualidade do jogador, mas nos valores que queremos recuperar no clube.
Cultura e valores acima da qualidade
Já o disse antes, no caso de Marcano, e não é por mudar a direção que mudo de opinião: não é com regressos de quem saiu a custo zero que se constrói uma nova era no Dragão. Pode parecer um pormenor para alguns, mas na minha opinião, é precisamente nesses pormenores que se define a cultura de um clube.
E para mim, trazer de volta alguém que saiu, prejudicando o clube sem deixar um cêntimo nos cofres, é um sinal errado, eu diria mais… MUITO ERRADO, um ABSURDO!
Nada contra Taremi, mas contra o precedente
Nada contra o Taremi, muito pelo contrário. Fez o que achava certo na altura. E, honestamente, se eu estivesse na pele de um jogador estrangeiro, vendo por dentro uma direção incompetente, que se servia do clube em vez de o servir, também poderia ter pensado da mesma forma e procurado essas luvas como segurança para a minha família.
Sempre foi respeitador, profissional, decisivo. Mas, na minha opinião, o que está em causa aqui não é o caráter do jogador e a sua qualidade. É o que a sua eventual vinda representaria num balneário que está, visivelmente, a ser reestruturado.
A limpeza necessária no balneário
Estamos a tentar limpar hábitos, vícios, dinâmicas que estavam enraizadas nos últimos anos. E nesse processo, às vezes, até jogadores com menos talento podem vir a ser preferíveis, não por serem melhores ou piores, mas por estarem limpos, prontos para absorver a identidade portista sem ruído nem ligações ao passado recente, ou seja, sem vícios.
O Porto não pode voltar a permitir que se normalize o “sair a custo zero e voltar como se nada fosse”. Isso foi um dos erros fatais da gestão anterior. Um sangramento constante que levou o clube à beira do abismo, e sim, para as viúvas mais sensíveis, o abismo existiu mesmo, não é uma opinião. É um facto.
E se queremos mesmo mudar de ciclo, essa prática tem de ser travada e reduzida. Sem exceções.
(Se alguém ainda tiver dúvidas, fale com Pitágoras. Ele explica que somar zeros dá… zero.)
A reconstrução faz-se de mensagens simbólicas
Se este projeto quer ser sério e sustentado, tem de começar por definir limites.
E, por mais que custe, há jogadores que devem mesmo ficar no passado. Novamente… Não por falta de qualidade. Mas porque a reconstrução também se faz com mensagens simbólicas.
Não falo isto por ser contra ninguém ou por hostilidade a alguém. Falo porque sou a favor do FC Porto. Não sigo direções, sigo valores. E se hoje exijo coerência, é porque a exigi ontem. O que defendo não muda com os nomes no cargo, muda com o que, na minha perspetiva, é certo para o clube que amo.
E manter a porta aberta a quem saiu sem deixar nada… simplesmente, na minha perspetiva, não é certo.
Respeito pelo passado? Sempre.
Porta aberta a todos? Nem sempre.
Porque há coisas que jogam bem… mas não jogam a favor.
O caso Otávio: totalmente diferente
Já agora, enquanto se fala de Taremi, também surgiram rumores sobre um possível regresso de Otávio Monteiro. Situação completamente diferente.
Falamos de um jogador que saiu numa venda legítima, numa fase difícil do clube, e que sempre demonstrou ter mística, liderança e respeito pelo símbolo.
Se voltasse, não viria para dividir, mas sim para agregar, e não traria com ele os fantasmas de um balneário velho.
Se vai mesmo regressar? Se vai acontecer ou não, o tempo dirá.
Mas seja como for, a comparação entre os dois casos não pode ser feita de forma leviana.
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