Origens – Da infância azul até à voz que nasceu (1987–2010)

Jogadores do FC Porto celebram vitória histórica contra o Bayern na final da Taça dos Campeões Europeus de 1987.

Da infância azul até à voz que nasceu (1987–2010)

Há memórias que não se explicam, sentem-se. A minha primeira não é de um golo, nem de um estádio cheio. É de um miúdo de nove anos, ajoelhado no soalho de casa em Maio de 1987, a chorar e a rezar por um clube que ainda parecia pequeno demais para sonhar com a Europa. FC Porto contra Bayern, final da Taça dos Campeões. Não me lembro do início do jogo, nem de grandes detalhes. Só me lembro do nó na garganta, das lágrimas a correrem, da fé absoluta que, de repente, nasceu em mim: “Deus vai querer que o Porto ganhe.” era só isso que eu sentia no coração enquanto os joelhos doíam.

E o Porto ganhou. Festejei de joelhos, caí ao chão porque já nem os sentia, e logo a seguir estava a ser lançado ao ar na Casa do Porto em Oliveira de Azeméis, por Homens mais velhos, que eu nao conhecia de lado nenhum nem eles a mim, mas que tínhamos algo bem maior que nos unia. Ali percebi que ser Porto não era só torcer por uma vitória. Era ser parte de algo maior, uma irmandade que acreditava no impossível.

O legado das Antas e da exigência portista

Foi esse legado que o meu pai me ensinou nas Antas. Entrar no estádio com ele era como atravessar um portal. O cheiro, as bandeiras, os cânticos, a exigência daquela massa adepta que até a vencer se fazia sentir. Eu era miúdo e ficava a olhar espantado: como é que se assobiava a equipa mesmo estando a ganhar? Só anos mais tarde percebi que isso não era ingratidão, era ADN. Era a exigência que moldava Homens, que não aceitava menos do que dar tudo.

E foi esse mesmo ADN que fazia questão de passar à minha mãe. Ela era a única que não era portista na família. Durante anos insisti, expliquei-lhe que o Porto não era apenas futebol, era uma forma de estar, mas nada parecia movê-la. Só que, por volta dos meus 16 ou 17 anos, ela foi a um congresso em Lisboa e sentiu-se diminuída apenas por ser do Norte, sentiu aquele centralismo na pele.

Quando regressou, olhou para mim e disse: “Filho, tens toda a razão. Quero ser portista. Quero saber mais, quero sentir isso.” Desde esse dia, é uma portista ferrenha. Não conhece todos os jogadores, mas sente o clube como se fosse sangue. E isso basta.

O nascimento do BestOfFutebol (Bof)

Esse episódio foi mais do que simbólico: mostrou-me que o Porto transforma pessoas, dá identidade e voz. Cresci com essa certeza, ser Porto é escolha, luta e compromisso. E quando chegou 2010, já não dava para engolir o que via todas as semanas: uma narrativa encarnada de vitimização conveniente, decisões disciplinares esticadas ao sabor do vento, arbitragens que pareciam guião e uma imprensa que aceitava a encenação como verdade. Perante isto, não podia ficar calado.

Assim nasceu o BOF. Já não aguentava ouvir o choradinho do Benfica – o famoso calimero – usado como cortina de fumo para esconder o roubo descarado nas instituições do futebol português. O país estava adormecido e ninguém parecia disposto a dizer o óbvio. Usei a palavra como arma: um espaço para expor contradições, mostrar que não éramos cegos e defender o Porto sem filtros nem favores.

Porque, no fim do dia, o BOF é isto: a continuidade daquela fé de 87, da exigência das Antas, da conversão da minha mãe. É a recusa em aceitar que a verdade se cala quando gritam mais alto. O Porto merece lucidez, coragem e exigência, SEMPRE!

Best_Abraços,
Ricardo Amorim