Apresentação Oficial da Rubrica
Revista à Lupa é o espaço onde o BestOfFutebol pega na Revista Dragões e a analisa com olhos de quem vive o FC Porto no osso.
Aqui não há leitura passiva nem aceitação cega, cada página é posta sob a lupa portista, elogiando o que merece ser celebrado e questionando o que soa a propaganda ou omissão.
É o Porto visto no papel, mas comentado com a frontalidade, paixão e exigência que nos define.

A ambição que não pode ser só discurso
Saiu mais uma edição da Revista Dragões e há muito tempo que não lia uma Dragões tão centrada num tema: Ambição. O presidente escreve sobre ela, o treinador respira-a, a equipa técnica vive dela. Mas a questão que importa não é o quanto se fala em ambição, é como se transforma esse discurso em hábito competitivo dentro de campo. E é aqui que entra o olhar à lupa, porque o que interessa ao portista não é a maquilhagem, é a substância.
A abertura da revista, assinada por Villas-Boas, é clara: o Porto tem de voltar a ser Porto todos os dias. Palavras fortes, sim, mas a nossa memória é curta para slogans e longa para comportamentos. E a diferença é esta: até ao dia em que escrevo (sexta, 29/08), aquilo que o presidente prometeu é o que temos visto em campo e fora dele. Equipa concentrada, unida, a jogar com padrão e intensidade, e um clube gerido com critério, Por isso é que é tão bom ler, mas sobretudo sentir cada palavra: porque batem certo com a realidade que vemos e sentimos nos dia a dia.
No Porto não há espaço para incoerências. Quem defende o clube acima das pessoas não perdoa contradições: exige que a equipa represente o legado em campo e que os dirigentes respeitem a inteligência dos adeptos. O discurso só vale quando condiz com o comportamento, e, até agora, o alinhamento tem sido evidente.
O mais curioso é que, em certas franjas de “adeptos” (ou pelo menos é isso que dizem ser), tornou-se quase proibido reconhecer o que esta direção tem feito de bem. Não se trata de endeusar ninguém, como se fazia no passado, recorrendo sempre ao museu para encobrir a realidade do presente. Trata-se apenas de falar com factos. E quando os factos estão à vista, fingir que não existem não é ser portista, é ser viúva!
Nao sabe o que sao as viúvas? Veja aqui
Farioli entre filosofia e suor
Logo a seguir, a Dragões centra-se em Farioli: o treinador-filósofo, obcecado, metódico. Gostamos de gente que pense o jogo, claro. Mas no Dragão só sobrevive quem transforma ideias em garra e organização coletiva. E, para surpresa de muitos, inclusive de quem vos escreve e costuma ser crítico, até agora é isso que temos visto. Uma equipa com ideia clara e muita fome de competir.
A filosofia é bonita, mas não ganha jogos sozinha. O Porto não precisa de frases para molduras, precisa de padrões de jogo que se reconheçam ao longe. Isso só o tempo confirmará, mas no imediato já se notam sinais: pressão coordenada, reação feroz à perda, bola parada levada a sério. É isto que distingue poetas de campeões.
E aqui vale a pena sublinhar: em poucas semanas já vimos mais trabalho nas bolas paradas do que em três anos anteriores. Parece detalhe? Não. Para quem viveu tempos em que um canto ou um livre era pausa para ir buscar uma água ou até ir à casa de banho, hoje é diferente. Hoje, voltamos a sentir aquele arrepio de expectativa, aquele bater acelerado no peito. Porque sabemos que dali pode nascer golo. E essa sensação… já nos estava a faltar há demasiado tempo.

A proximidade que cria confiança
Há um traço que a revista destacou e que merece ser sublinhado: a proximidade de Farioli com os jogadores. Não é conversa de balneário, é atitude diária. O primeiro a chegar, o último a sair, a falar com todos, a preocupar-se genuinamente com cada detalhe. Isto não é romantismo, é método.
Eu sempre fui defensor deste método, porque precisamos perceber a psicologia por trás de um jogador. Muitos saem cedo do colo dos pais, entram ainda adolescentes num mundo competitivo e desumano, onde cada erro pesa toneladas. Ter um treinador próximo, que escuta, que cobra mas também ampara, pode ser a diferença entre um talento desperdiçado e um jogador feito à Porto.
E no atual Porto, essa proximidade pode ser a arma mais poderosa. Porque um jogador que sente confiança, dá mais um passo, corre mais um metro, entra mais duro num duelo. A empatia, quando bem usada, transforma-se em rigor, e é aqui que Farioli pode marcar a diferença.
Mas atenção: proximidade não é facilitismo. Não é o treinador virar “amigo” para poupar cobranças, não é isso que a revista fala, nem que eu acredito. É o contrário: estar tão perto que o jogador não tem como escapar à exigência. No Dragão, a proximidade só serve se fizer crescer a intensidade coletiva.
A obsessão que pode ser Porto
Há um ponto em que a revista acerta em cheio: a obsessão. Farioli fala em dar tudo, em não ir para casa arrependido. Isso é música para os meus ouvidos, e acredito que também para os vossos. Já para as viúvas ainda em fase de negação, deve ser tortura ouvir isto, mas calma, passa com o tempo…
Mas a verdade é que precisamos voltar a ser aquela equipa que morre em campo. Que até pode perder, mas sai do relvado orgulhosa do esforço, do suor e até do sangue que deixou lá dentro. Romântico? Sim. E até aceitamos bater palmas numa derrota assim. Mas atenção: o limite desse romantismo é curto. Anual, não mensal lol
E aqui, sim, há Porto. Porque ser Porto é ser obcecado, mas não com estatísticas de posse ou gráficos bonitinhos. É ser obcecado com o esforço, com a dedicação e, sobretudo, com a consequência natural disso: as vitórias.
Se esse traço de que a revista fala, e que já começamos a ver em campo, se colar verdadeiramente ao grupo, então talvez estejamos mesmo a construir uma identidade nova, sem nunca perder a velha alma.

Oito técnicos, sete bandeiras: riqueza ou risco?
A revista sublinha a diversidade da equipa técnica: oito elementos, sete bandeiras diferentes. É um retrato de riqueza cultural e de especialização. E, para já, percebe-se que todos estão alinhados em torno de uma ideia clara de jogo.
O que nos importa como portistas é que essa diversidade fale sempre o mesmo idioma: o do Porto. Porque pouco interessa de onde vêm ou quantos diplomas têm, o que conta é que cada sessão de treino, cada detalhe trabalhado, sirva para pôr a equipa mais perto da vitória. Se esta estrutura for tão coesa como a revista nos mostra, então estamos perante uma base sólida para transformar obsessão em resultados.
E se olharmos à lupa para cada um, como a revista mostra, percebemos que não se trata de um grupo improvisado: há histórias de confiança, reencontros e trajetórias que se cruzaram ao longo dos anos até desembocarem no Dragão.
Dave Vos, vindo da escola do Ajax e com passagem pelo Arsenal e Barcelona, junta-se a Farioli depois de anos a trabalhar jovens talentos. O português Lino Godinho conheceu o treinador em terras do Catar e regressa agora à Europa para esta aventura. Lucho González dispensa apresentações: um ídolo eterno no Dragão que, depois de experiências como adjunto no Brasil e Espanha, reencontra o clube pela porta técnica. Callum Walsh, preparador físico inglês com rodagem no Liverpool e Wigan, cruzou-se com Farioli na Aspire e no Alanyaspor, repetindo agora a parceria. Osman Kul, analista turco, acompanha-o desde o Karagümrük até aqui. O basco Iñaki Ulloa chega do Athletic Bilbao e da Real Sociedad, reforçando a área da baliza. Diogo Almeida, português, é o único que já fazia parte da estrutura anterior do Porto, continuidade dentro da mudança.
A revista pinta isto como riqueza cultural, experiência diversa e confiança pessoal. E é verdade: Farioli trouxe gente da sua confiança, mas também abriu espaço ao regresso de símbolos e à continuidade da casa. A questão é simples: oito bandeiras, sim, mas só pode haver uma língua. Porto.
Atlético, apresentação e primeiros sinais
Outro ponto destacado é o jogo de apresentação frente ao Atlético. Vitória por 1–0, estádio cheio, ambiente de festa. Não ganhámos nada aí, mas vimos sinais: coragem na linha alta, algum critério no corredor central, reforços a querer mostrar serviço. É nestas noites que se cria a expectativa, e a partir daí o Porto não pode descer o nível. O Dragão exige consistência, não fogachos.
Memória viva do Dragão
A revista trouxe ainda uma rubrica sobre as histórias dos jogos de apresentação, de estreias a homenagens, de golos a tecnologia. É memória viva, é património emocional. Serve para lembrar a todos, sobretudo aos que chegam, que jogar no Dragão não é só futebol, é ritual. É vestir uma pele que não se tira mais.
Modalidades: o Porto que nunca dorme
E, como sempre, as modalidades não foram esquecidas. Entre páginas numeradas e histórias curtas, vemos o retrato de um clube que respira em várias frentes: o feminino com o objetivo de subir à Liga BPI, o Dragão Arena pronto para lutar por tudo, o voleibol multicultural e ambicioso, e a memória eterna de Pinga no Museu. O Porto é isto: bola, pavilhão, camisola, história. Quem acha que o FC Porto é só futebol nunca entendeu o peso de uma instituição que não vive de modas, mas de identidade.
Fecho: ambição que tem de virar hábito
No fundo, esta edição da Dragões mostrou-nos o Porto que queremos ser: ambicioso, obsessivo, plural e fiel à sua memória. Mas à lupa vemos também o que falta: transformar discurso em padrão, filosofia em pressão, diversidade em eficácia. Porque o portismo não vive de promessas, vive de vitórias. E cada portista que folheia a revista sabe que a próxima página que interessa é a da classificação.
À lupa, esta é a verdade: o Porto está a construir. Nós exigimos que saiba acabar.
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