A velha escola dos empréstimos do FC Porto
O empréstimo de Vasco Sousa ao Moreirense pode parecer apenas mais uma nota de rodapé no mercado, mas para quem conhece a história do FC Porto, é muito mais do que isso. É a recuperação de um método que tantas vezes nos deu frutos: emprestar jovens da casa a clubes da Primeira Liga para ganhar minutos, ritmo e casca, sem perder o fio à meada do campeonato onde realmente têm de vingar.
Foi assim com Ricardo Carvalho, que passou por Leiria e Alverca antes de se tornar campeão europeu. Foi assim com Bruno Alves, que cresceu em Guimarães até voltar para erguer títulos como capitão. Sérgio Oliveira andou anos a rodar em Paços, Penafiel ou Beira-Mar até se afirmar no Dragão. Galeno fez-se homem em Vila do Conde e voltou para nos dar golos e milhões. Até Gonçalo Paciência, com passagens por Académica, Setúbal e Rio Ave, foi moldado por esse caminho antes de seguir carreira fora.
O Porto sempre soube que a Primeira Liga é o laboratório perfeito: está perto, os jogos contam, e os jogadores crescem sob os mesmos árbitros, estádios e pressões que depois vão enfrentar de azul e branco. Vasco Sousa tem tudo para ser o próximo a seguir esse trilho. Um médio combativo, tanque com técnica, que joga de cabeça levantada e não desiste de um lance, é em essência, um jogador à Porto.
Um artigo escrito em três tempos
Este artigo acabou por ser fora do normal, escrito em três tempos. Quando comecei a escreve-lo, deixei uma crítica: antes da cedência, seria fundamental renovar. Ora, pouco depois percebi que afinal essa renovação já tinha acontecido, até 2030. Nesse ponto, o FC Porto esteve exemplar: blindou o jogador e deu-lhe confiança para o futuro, antes do empréstimo.
Alterei o texto, satisfeito por ver o clube a antecipar o que eu considerava essencial.

A incoerência da opção de compra
Mas logo depois surgiu o comunicado oficial… e com ele um detalhe que tira brilho ao quadro: a opção de compra de 80% dos direitos por 8 milhões. Muitos podem dizer, o Moreirense dificilmente terá esse dinheiro, sim, é verdade. Mas no futebol de hoje qualquer intermediário pode usar essa cláusula como atalho. E assim, o Porto corre o risco de ver sair um talento da casa por uma porta lateral, a um preço que não honra nem o jogador nem o clube.
E é aqui que fica a pergunta: para que serve uma cláusula de rescisão de 50 milhões, se depois se abre uma alternativa por 8?
É incoerente. É perigoso. E, sendo provocador, até digo: por esse valor, um rival podia muito bem empurrar um empresário a arranjar um clube apenas para acionar a cláusula, garantir que Vasco Sousa nunca volta a vestir de azul e branco e, no processo, enfraquecer o FC Porto.
O empréstimo foi bem pensado. A renovação foi inteligente. Mas esta opção de compra, na minha análise – com a informação que tenho disponível – é um erro. E não é um erro pequeno, é um erro grande. Incompreensível, até.
Como é que uma direção que tem conseguido tantos acertos difíceis se permite a uma incoerência destas? Ainda por cima com um jogador que, repito, com a estrelinha que normalmente nasce do trabalho, pode perfeitamente tornar-se uma referência no meio-campo do FC Porto.
O FC Porto tem de proteger os seus ativos com unhas e dentes. Espero, sinceramente, estar enganado e que existam cláusulas escondidas neste contrato que salvaguardem os interesses do clube, como, aliás, tem sido prática da nova direção até aqui.
(Pensar Porto é o nosso compromisso)